quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

TROCANDO BONÉS POR TOUCAS!

07-12-10 – Saímos de Rada Tilly as 8 hrs, já rodamos (contando com os desvios dos passeios) 3.859 km. 79 km depois passamos por Fitz Roy (nome do comandante do Beagle, o navio que trouxe Charles Darwin a região) uma cidadezinha bem pequena e com tipos bem peculiares... O herói por aqui é um tal de Facon Grande, que lutava contra a escravidão branca imposta pelos estancieiros.

 De lá, mais 90 km saímos da estrada e fizemos 50 km de ripio, em direção ao Monumento Natural Bosques Petrificados, uma área de 150 quilometros quadrados, a maior floresta de petrificados da Patagônia (esta região, bem como, o noroeste do Chubut, é cheia de sítios arqueológicos, as vezes descobertos acidentalmente, como no caso de um engenheiro da venezuelana YPF, que escavando em busca de pretoleo, achou ossos de dinossauros).

 Quando a terra era um bloco só, sem a atual divisão de continentes, os Andes não existiam e os ventos úmidos sopravam do Pacifico (o oceano atlantico tb não existia) haviam chuvas que formaram uma enorme floresta tropical, com araucárias gigantes. A atividade vulcânica que formou os Andes,  e configurou os continentes,soterrou as florestas sob as cinzas. Estas, junto à ação das chuvas, foram penetrando nos troncos das arvores e impregnando de minerais, como o silício, tão profundamente que as petrificaram. As arvores fossilizadas estão no ponto onde foram petrificadas e foram encontradas por uma mineradora e chegam a 35 m de altura com uns 3 m de diâmetro. Isso ocorreu há 140 milhões de anos. Depois disso o mar  invadiu tudo e deixou fosseis de animais marinhos de 40 milhões de anos.

 Caminhamos por uma trilha de 2 km, onde, ao fundo, se vê um vulcão inativo. Tem muito vento e o parque, mais do que bonito, é meio fantasmagórico, ainda mais que estávamos sós... gemidos de vento, mesetas( morros achatados encima) emparelhadas pela erosão, uma paz reflexiva...
afinal, estávamos pisando em milhões de anos de historia... (bem, se pensarmos realisticamente, sempre estamos pisando em algo muito antigo, que mesmo que transformada a matéria, os elementos desde sempre estiveram no planeta).

Por volta de 14 hrs, saímos rumo a Puerto San Julián (uns 180 km), desistimos de dormir em Puerto Deseado, pois teriamos que voltar um bom trecho.
O vento vindo dos Andes (sudoeste) ficou cada vez mais forte, nos fazendo consumir quase 30% mais de combustível, em velocidades de 80 a 100 km por h. Há trechos que se tem que ter cautela, pois os guanacos e lebres invadem a estrada..
Tudo é muito inóspito e os regionais são meio calados, uma gente forte, meio melancólica.

Lembrei de um caso que houve no começo da colonização da Península Valdes: na Bahia norte da península, houve uma tentativa de colonização, o Puerto S. José, onde construíram até um forte. Os índios tehuelches atacaram a aldeia (tinham seus motivos, lembrem) e queimaram tudo. Sobrou um único sobrevivente que, após enterrar todos seus conterrâneos, seguiu a pé, com um cachorro, até Carmen de Patagones! (muito mais de 200 km...) Aqui se vê uma cumplicidade muito grande deste povo (e tb vimos isso no Chile) com seus cachorros. (saudades das nossas Frida e Iolanda...
)
PUERTO SAN JULIAN – O berço da Patagonia: foi aqui que Fernão de Magalhães aportou antes de descobrir o Estreito de Magalhães, em 1520. Depois de rezada a primeira missa pelo padre Pedro Sanches de Reina, houve um motim que resultou no corte de pescoço de Quezada e Mendoza (o padre, que tb estava envolvido, foi simplesmente abandonado no local!) O pirata ingles Thomas Drake,  58 anos depois, tb executa ali um traidor de sua frota (o nobre Doughty)... areias manchadas de sangue... ali tb há um aeroporto militar, bem decadente, que, já que tem uma praça Malvinas a beira mar, com um caça exposto, imagino tenha sido palco da Guerra das Malvinas... mais sangue...

Em 1780  uma colônia se estabeleceu aqui, sob a liderança de Antonio de Viedma, mas foi vencida pelo escorbuto. Há as ruínas da mesma a uns 8 km a oeste da cidade, mas não se pode visitar, pois arqueólogos ainda trabalham lá. 

San Julian fica numa baia em fechada e possui uma ilha bem perto, onde há uma reserva de pingüins. Fizemos um passeio de uns 28 km pela costa norte, onde existem as ruínas do frigorífico falido Swift, e tb magníficas falésias a beira mar (já fora da baia, mar aberto).

Muito, muito vento e frio!!! HORA DE PEGAR AS TOUCAS!!! E não esquecer de amarrar a manta, senão voa!

A cidade é bem espaçosa, todos os lugares têm aquecimento, construções já com aspecto bem “austral”... Nosso hotel tem quartos amplos, com vidros duplos e, apesar de estar a beira mar, pode circular de mangas curtas.

O povo tem um ritmo próprio, nada de pressa ou estresse... e são quietos, apesar da descendência italiana! Fotografamos uma replica da Nau Vitória, de Fernão de Magalhães, o marco da primeira missa, o caça e depois tentamos achar algum artesanato... só conseguimos 2 canecas, que, apesar de eles terem um curso de ceramica aqui, foram trazidas de Córdoba!

Tem muitos hotéis e  tivemos um jantar muito aconchegante, regado a um run e vinho tinto (para aquecer a alma). Comi um paella de frutos do mar e o Darci tem se esbaldado com as carnes argentinas. Os pratos são individuais e custam uma media de 40 pesos, ou uns 20 reais cada. Os vinhos variam de 20 a 200 pesos! Hoje tivemos uma noite de reis!

Amanhã seguiremos para Rio Gallegos. Aqui se pronuncia Gajegos... No Chile os  “ll” têm som de lh, Já a França os desdenha, como se fossem uns argelinos ignoráveis!!!
Abraços a todos









2 comentários:

  1. E o Arlindo Orland... como está se comportando? bj,
    Nayra

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  2. Tá um guri!!
    Passamos por estrada com neve acumulada e ele só sorria!!!

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